pensando em cada foto
como quem visualiza e assimila o seu significado
deixando-se levar pelas sensações
diante da surpresa de encontrar também
outros significados
que iluminam a vida através dos olhos
e renovam a própria alegria de viver
das situações que vivenciei
trago apenas o que restou
do meu corpo como suporte para o pensamento
e alguns fragmentos
que vão se acumulando ao longo dos anos
deixados para depois
em algum tipo de arquivo cada vez mais intangível
enquanto outras experiências acontecem
exigindo RENTABILIDADE ou UTILIDADE
e a vida manda sinais
mostrando que pode ser muito mais
do que fotografias não compartilhadas
e falta de senso de humor
os olhos fecham
e quando abrem outra vez
a brincadeira quase escondida
das tardes despreocupadas
transformou-se numa forma de desafiar
tudo o que não podia ser feito.
ver se torna tentar capturar
um pouco daquela sensação do impossível,
como se algum tipo de imagem
pudesse preservar um gosto que poucos conhecem
como nas primeiras vezes
quando a vontade é maior do que o medo
e você está um pouco assustado
mas continua olhando direto nos olhos
e avançando na direção oposta do que seria seguro
atraído pela melodia e pela estridência
e por um instante você vê
o que vem antes e depois
e aquilo realmente parece fazer algum sentido
e você sente aquele gosto estranho
e gosta
e tudo se torna algum tipo de energia
e no momento em que alguém faz uma foto
você se sente ardendo
e não quer nada menos do que isso
com uma sequência de imagens
surge a sensação
de uma história sendo contada
mostrando que nunca existiu cronologia
ou ao menos brincando e sugerindo
que o antes, o depois e o agora
são fragmentos de uma mesma imagem
assim como o que eu vou fazer
acontece simultaneamente
com o que ja fiz
e com o que faço